segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Legenda

Sobre remar contra a maré, refutando o real desejo de seguir o fluxo da correnteza:
Que perda de tempo!
Quanto esforço tolo e em vão!
Felicidade é a sorte de poder largar os remos e apreciar o percurso.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Hoje

     Nos dias em que a ansiedade nos engole, a vida fica sem rumo. A cabeça trabalha TANTO que deixa o corpo estagnado. Pensa tanto, deseja tanto, sonha tanto e tudo ao mesmo tempo que não sobra energia pra agir... Nem vontade. Porque tudo já deu errado, antes mesmo de virar ação.
    É impressionante e assustador a força que isso tem!
     Nesses dias, por fim, o maior desejo é de não estar sozinha. É ter quem segure a nossa mão. É ter companhia pro silêncio. Quem traga leveza pra alma e calma pro turbilhão. É ter quem se faça casa num abraço apertado e nos dê um travesseiro no seu próprio peito.
     É saber que há quem te gosta, mesmo ciente do caos que você é.
     

domingo, 4 de março de 2018

Sem diarista


     Quando chegar, não se assuste! A casa está meio bagunçada, mas a aparência que ela tem não transmite sua real essência.  É só uma questão de tempo. As coisas vão se ajeitar. Tudo estará em seu lugar e você vai compreender que era só uma fase. 
        Entende?
     Ela é sua própria casa. Mora em si. E também já não aguenta mais a desordem. Mas não sabe por onde começar. Pede ajuda, mas o faz em silêncio, em meio a sorrisos e olhos brilhantes. Então ninguém percebe.
    Ou percebe, mas acha que vai demorar muito, que tem muito trabalho e prefere acreditar que os sorrisos são sinceros.
     Além disso, não há muito tempo a se dispor com bagunça alheia: cada um tem sua própria faxina a fazer, ora! Ela não critica.
     Então seja compreensivo. Sei que ela parece meio louca, ciumenta, amarga e possessiva nesse momento. É tudo insegurança. Está tudo muito conturbado lá dentro mesmo. Mas esse temperamento, repito, é só uma fase! 
  Lembra que você conhece a casa arrumada. O sorriso verdadeiro, que não esconde nada e só quer escancarar ao mundo a felicidade. O quanto ela se doa. O carinho. A compreensão que envolve as horas de conversa sobre os mais variados assuntos. A doçura. O quanto ela o quer bem, feliz e com seus sonhos realizados. 
     Não esquece que ele é amiga, amante, parceira, "mãe", companheira de trabalho nas horas vagas...
     Ela só está preocupada demais pensando em como restabelecer a ordem da sua vida. E ao mesmo tempo, timidamente, deseja chamar a atenção por ajuda. Isso faz com que ela pareça ser quem não é.
     Seja paciente. Não ignore.
     Ela só precisa acreditar que é capaz. Talvez, só queira que você esteja sentado ali, fazendo compainha, com um bom papo e boas risadas enquanto ela mesma devolve tudo ao seu lugar.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Maricota Café

     Nosso Café favorito encerra as atividades hoje. Não deu pra te contar ontem, quando soube. Não foi possível marcar uma despedida do nosso cookie de chocolate favorito. Não estivemos lá pra que você perguntasse pela última vez qual o sabor do chá da casa, esquecendo que era sempre hibisco. Não houve o tradicional marketing nas redes sociais.
     Talvez por conta da despedida que ocorreu sem que soubéssemos que eram os últimos arrepios, os últimos beijos desencontrados, nossa última vez.
         Inconscientemente, acho que eu sabia.
    Nenhum de nós soube explicar aquele encontro. Sempre achávamos ter atingido o máximo de intensidade, de sintonia, carinho e cumplicidade, mas não conseguimos encontrar palavra ou sensação que definisse aquela noite.
     Ao final e pela primeira vez, eu chorei. Não sabia o motivo, mas sentia uma tristeza doída imediantamente após experimentar os melhores momentos da minha vida. Sabia que estava perdidamente mergulhada numa história em círculos e de desejos tão desencontrados quanto nossos beijos. E sabia que meu desejo não era o que prevaleceria. Óbvio. Nossas circunstâncias só permitiam que vigorasse o que fosse recíproco. E não era. Assim, você vencia. Sua vontade se sobrepunha a tudo. Foi assim que, mais uma vez, eu perdi.
     Perdi por ser sempre "boa" demais, por me doar demais, por ser "muito" mesmo sendo tão pouco. Tão pouco no âmbito profissional, tão perdida quanto à minha carreira, tão deseperada na vida pessoal. Contraditório alguém que é tão pouco, ser muito, ser mais do que outra pessoa mereça... Perdi por ser a tal "pessoa certa na hora errada", como amam definir por aí.
     Perdi por não conseguir seguir na superfície, por não conseguir me despir apenas das peças de roupa, por não me entregar só de corpo; por me apegar ao sorriso contido que sai dos lábios finos, pelo vício nos sorrisos que me arrancava até nos momentos sombrios, por gostar tanto da pessoa que você se mostrava quando estávamos só nós dois, deixando escapar em atos tímidos o carinho que sentia. Perdi por me viciar na sua leveza, tão contraditória ao peso que coloco em tudo; por não conseguir viver de presente, sempre sonhando com o futuro; perdi por não ser daqui, não ser desse tempo, não pertencer a essa geração líquida... Porque o mundo lá fora tem mais atrativos e é mais interessante.
     Perdi. Perdi por não saber ganhar nesses tempos modernos, instantâneos, sem apego, pela metade. Eu poderia. Mas não soube. Não consegui. Essa vitória, desse jeito, não cabia em mim.
     E eu pareço não caber em lugar algum.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um bom lugar

       O meu quarto é um bom lugar.
     Nele, constituo minha família da maneira mágica que sempre idealizei e somos felizes para sempre, como em todo bom conto de fadas.
     Nele também, sou abandonada e opto por uma vida de viagens e experiências singulares, sem lembrar da dor da solidão.
     Conheci vários lugares no meu quarto.
     No meu quarto, termino a faculdade desgostosa e concluo outras duas com sucesso, gosto e amor.
     Nele escrevo sobre essas coisas de pessoas e sou ovacionada por isso. Mas também ganho na Mega e levo