Um bom lugar

       O meu quarto é um bom lugar.

     Nele, constituo minha família da maneira mágica que sempre idealizei e somos felizes para sempre, como em todo bom conto de fadas.

     Nele também, sou abandonada e opto por uma vida de viagens e experiências singulares, sem lembrar da dor da solidão.
     Conheci vários lugares no meu quarto.

     No meu quarto, termino a faculdade desgostosa e concluo outras duas com sucesso, gosto e amor.

     Nele escrevo sobre essas coisas de pessoas e sou ovacionada por isso. Mas também ganho na Mega e levo
uma vida tranquila quanto ao temeroso futuro.
     O meu quarto é sinônimo do êxito que nem sempre existe fora dele.
     Quando lá fora tudo é cinza, encontro nele o azul, o dia mais ensolarado, a brisa mais confortante.

     Mas nem tudo são flores!

     Já me vi sem meus pais no meu quarto e fiquei sem chão! Então, eles voltaram pra ficar um pouco mais, enquanto eu aprendo a mater meu mundo de pé. E (frizaram que) eu tenho que aprender...

     Me vi impossibilitada de ter filhos e, seca assim, trinquei e assisti à vida quebrar-se em inúmeros pedacinhos, impossíveis de se juntar. Para isso, não houve remédio.

     Foi no meu quarto que vi minha vida por um triz várias vezes e senti, sobretudo, pena pelas pessoas que deixaria e pelos momentos que não seriam vividos.
     Eu não disse que meu quarto é perfeito, mas sim, que é um bom lugar.
    E quando tudo está confuso, quando não vejo os caminhos a seguir, quando sinto o peso da estagnação... É no meu quarto a vida segue. E isso é tão confortante...

     E mesmo que tudo aconteça sem, de fato, estar acontecendo, o meu quarto é sim, um bom lugar!