quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Maricota Café

     Nosso Café favorito encerra as atividades hoje. Não deu pra te contar ontem, quando soube. Não foi possível marcar uma despedida do nosso cookie de chocolate favorito. Não estivemos lá pra que você perguntasse pela última vez qual o sabor do chá da casa, esquecendo que era sempre hibisco. Não houve o tradicional marketing nas redes sociais.
     Talvez por conta da despedida que ocorreu sem que soubéssemos que eram os últimos arrepios, os últimos beijos desencontrados, nossa última vez.
         Inconscientemente, acho que eu sabia.
    Nenhum de nós soube explicar aquele encontro. Sempre achávamos ter atingido o máximo de intensidade, de sintonia, carinho e cumplicidade, mas não conseguimos encontrar palavra ou sensação que definisse aquela noite.
     Ao final e pela primeira vez, eu chorei. Não sabia o motivo, mas sentia uma tristeza doída imediantamente após experimentar os melhores momentos da minha vida. Sabia que estava perdidamente mergulhada numa história em círculos e de desejos tão desencontrados quanto nossos beijos. E sabia que meu desejo não era o que prevaleceria. Óbvio. Nossas circunstâncias só permitiam que vigorasse o que fosse recíproco. E não era. Assim, você vencia. Sua vontade se sobrepunha a tudo. Foi assim que, mais uma vez, eu perdi.
     Perdi por ser sempre "boa" demais, por me doar demais, por ser "muito" mesmo sendo tão pouco. Tão pouco no âmbito profissional, tão perdida quanto à minha carreira, tão deseperada na vida pessoal. Contraditório alguém que é tão pouco, ser muito, ser mais do que outra pessoa mereça... Perdi por ser a tal "pessoa certa na hora errada", como amam definir por aí.
     Perdi por não conseguir seguir na superfície, por não conseguir me despir apenas das peças de roupa, por não me entregar só de corpo; por me apegar ao sorriso contido que sai dos lábios finos, pelo vício nos sorrisos que me arrancava até nos momentos sombrios, por gostar tanto da pessoa que você se mostrava quando estávamos só nós dois, deixando escapar em atos tímidos o carinho que sentia. Perdi por me viciar na sua leveza, tão contraditória ao peso que coloco em tudo; por não conseguir viver de presente, sempre sonhando com o futuro; perdi por não ser daqui, não ser desse tempo, não pertencer a essa geração líquida... Porque o mundo lá fora tem mais atrativos e é mais interessante.
     Perdi. Perdi por não saber ganhar nesses tempos modernos, instantâneos, sem apego, pela metade. Eu poderia. Mas não soube. Não consegui. Essa vitória, desse jeito, não cabia em mim.
     E eu pareço não caber em lugar algum.

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