domingo, 20 de setembro de 2009

Crônica de domingo.

Estava muito quieto para uma criança na Igreja num domingo à noite.
Em pé ao fundo do templo protagonizou uma inquietude visível ao perceber os preparativos para o momento do ofertório: queria levar a cesta das ofertas para o altar. Caminhou, inseguro, em direção à senhora que organizava o momento, olhou para os pais pedindo o apoio que veio em forma da mãe, comunicando seu desejo. A senhora ficou sem jeito. Sempre chamava os fiéis antes do início da celebração, por motivos óbvios: não podia ficar procurando por alguém no momento da procisão acontecer. Mas não queria contariar as crianças; nem o menino de olhos pedintes, nem a pequena que já estava aguardando para dar início à caminhada para o altar.

Caminhou até a mãe e disse que a outra criança havia feito o pedido antes, tentando se justificar, ainda mais sem graça.
Ele fez menção de chorar.
Sentou no apoio para os pés do último assento, deitando o rosto inclinado sobre os braços que eram sustentados pelo joelho. E assim, assistiu com olhos compridos o trajeto que tanto gostaria de ter feito.

Subitamente, um desanuvio da expressão.
Correu novamente aos pais: poderia levar uma oferta para encher o cesto!
Mas o pai deu de ombros e balançou as mãos no ar de forma negativa. Rapidamente, a mãe alisou os bolsos e constantou que não havia uma moeda sequer para alegrar o menino.
Não teve jeito. Cruzou os braços e se aninhou à mãe, ainda contrariado.
Ela o encorajou a caminhar até o altar, mesmo sem oferta.
Foi até metade do caminho, olhando frequentemente para trás. Até que apareceu um anjo e pediu que ele levasse, por favor, sua oferenda.
O sorriso veio instantâneo. Foi como uma flecha e deixou aquele lindo adorno infantil em seu rosto o restante da celebração. Os pais agradeceram.

No final, como de costume, o pároco convidou os aniversariantes da semana ao altar para os cumprimentos.
Ele subiu sozinho. Depois do "parabéns", entoado por toda comunidade, apagou de a vela retirada do altar por improviso.

Completava seis anos naquela mesma noite. E aquele era seu presente.

Um comentário:

  1. esse tipo de manifestação vale mais do que qualquer "afirmação de religião"!

    Sinceridade nos atos deveria ser a maior norma religiosa no mundo! :)

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